Ao longo do primeiro semestre de 2018, ofereci alguns cursos sobre equilíbrio emocional em São Paulo. Foram encontros em que conheci muita gente, entre educadores, familiares, professoras, cuidadoras… Falei com interessados sobre meditação para crianças na cidade de São Carlos, abri uma conversa com educadores parceiros do projeto Mesa Brasil, no Sesc Carmo, ofereci um curso na linda Casa Casulo, outro no Colégio Dante Alighieri e termino o semestre com quatro encontros aos sábados no Sesc Vila Mariana. Uma felicidade ver esse interesse crescente de tantas pessoas, com quem passei por um intenso semestre de estudos e de trocas.

Em janeiro, curso em São Carlos (SP), com uma generosa turma de educadores

Alguns contatos têm acontecido por email. Dia desses recebi um direto ao ponto. Um pai me escreveu e, em poucas linhas, mandou a seguinte questão: como uma prática para o equilíbrio emocional pode me ajudar no relacionamento com meu filho?

Num processo como esse que venho estudando e oferecendo, aprendemos algumas práticas para o cultivo de uma mente mais saudável. Especialmente porque minha área de atuação é com crianças pequenas, passei a olhar para as sutilezas que manter uma investigação sobre o mundo interno pode nos propiciar no dia a dia.

Uma prática pode te ajudar a melhorar o relacionamento com seu filho, seu sobrinho ou seu aluno porque podemos contemplar nossa motivação — mesmo meio a um cotidiano imersivo e desafiador de cuidados. Educar ainda é uma atividade não muito privilegiada na nossa sociedade e envolve uma rotina cansativa, entediante e que muitas vezes não é imediatamente gratificante. É preciso abrir o olhar e aprender a refazer os votos para tudo que fazemos na vida — e especialmente para esta tarefa bonita e complexa de educar uma criança.

Cena do filme Little Miss Sunshine, de 2006

Uma segunda parte interessante de manter uma prática que vise aumentar nosso equilíbrio emocional é passar a observar nossa atenção. Ao colocar consciência em onde anda minha atenção ao longo do dia, percebo que sou constantemente levada por estímulos externos e internos — anúncios, distrações, vontades, emoções… Experimente por alguns momentos apenas relaxar e focar nas sensações do seu abdômen, enquanto o ar entra e sai durante sua respiração. Não demora para que a gente se pegue vagando em pensamentos contínuos. Nossa atenção está dispersa, é mínima — vivemos em uma era de déficit de atenção, diz Alan Wallace. Se trabalharmos a atenção em nós mesmos, vamos ter uma qualidade muito melhor de interação com o outro. E, ainda mais, seremos exemplo para as crianças que nos cercam.

Além disso, uma prática regular pode nos ajudar a olhar para nossas emoções e a reconhecer que não somos elas. Não sou a raiva que me toma quando ele me desobedece, não sou a tristeza que me invade quando não consigo o que quero. A alegria vai passar, assim como a culpa, o ciúme, o medo… Podemos aprender algumas estratégias para lidar com as nossas emoções e, principalmente, podemos colecionar recursos e práticas que facilitem não só a relação com as crianças ao nosso redor, mas com todos os seres com quem convivemos.

Isso tudo é um trabalho muito pessoal, em nós mesmos, que reflete imediatamente na criança que nos cerca. Muito mais do que uma técnica nova para a hora do banho, um jeito novo de fazer a sala de aula toda ouvir o que você está dizendo. Sem remédio, receita ou fórmula mágica, somos rapidamente colocados no papel de investigadores curiosos de nosso funcionamento interno.

Parece que estamos num consenso que equilíbrio emocional é necessário e urgente. Relativamente nova em nossa cultura é essa ideia de que podemos ter práticas regulares para o cultivo dessa mente mais saudável — e que são essas práticas que podem, sim, te ajudar.