Sobre o programa "Cultivating Emotional Balance"

Em 2017, passei 5 semanas na Itália, num vilarejo da Toscana, para participar da formação imersiva "Cultivating Emotional Balance Teacher Training".

Foram duas semanas de aprendizado diário com Eve Ekman, sobre a teoria psicológica e as recentes pesquisas científicas sobre as emoções universais e suas funções. E três semanas intensas com Alan Wallace, dedicadas às práticas contemplativas de treinamento da mente.

Hoje sou professora certificada a oferecer as 42 horas do programa completo do "Cultivating Emotional Balance" (CEB). Além disso, posso oferecer também versões menores e adaptadas do conteúdo dentro da minha área de atuação.

O que é o programa CEB

A origem desse movimento

Por que para educadores?

Grupo com o professor Alan Wallace

O que é o programa "Cultivating Emotional Balance"?

É um programa de 42 horas que tem como objetivo principal oferecer recursos para que o participante cultive um profundo bem-estar por meio de diferentes tipos de meditação – silenciosa, analítica e discursiva — integradas a mudanças de atitude em meio à vida cotidiana.

A felicidade genuína, não dependente das condições externas, é o resultado do cultivo de quatro equilíbrios: conativo, cognitivo, atencional e emocional. O CEB foca detalhadamente em cada uma dessas inteligências, embasando os aspectos teóricos de cada uma delas e oferecendo práticas para que qualquer pessoa seja capaz de iniciar um caminho de equilíbrio emocional.

Arte: Fábio Rodrigues

A origem desse movimento

Em 1987, Sua Santidade o Dalai Lama, líder promotor da compaixão e grande entusiasta das pesquisas científicas, se reuniu com um dos cientistas mais brilhantes que a humanidade já viu, o biólogo e neurocientista chileno Francisco Varela. Durante uma semana, eles se encontraram com também outros cientistas por cinco horas diárias, trocando experiências, métodos, perguntas e descobertas das ciências da mente.

Francisco Varela e Dalai Lama compartilhavam da mesma motivação, que se tornou a missão do Instituto Mind & Life:

“Aliviar o sofrimento e promover o florescimento pela integração da ciência com as práticas contemplativas e tradições de sabedoria.”

A foto acima é de 1992, numa reunião ainda pequena, com seres que se revelaram grandes professores. Além de Sua Santidade o Dalai Lama e Francisco Varela, estão aí Thupten Jinpa (grande erudito, tradutor oficial do Dalai Lama e autor do livro Um coração sem medo), Joan Halifax (antropóloga, ativista, professora zen e especialista em cuidados no processo do morrer) e Alan Wallace (um dos maiores professores de meditação do Ocidente).

Depois do primeiro encontro, foram mais de 30 conferências internacionais, registradas em diversos livros e vídeos. Além disso, são mais de 200 projetos, pesquisas e bolsas oferecidas e fomentadas pelo Mind & Life.

Foi em uma dessas conferências, no ano 2000, com o tema "Emoções destrutivas", que Dalai Lama ouviu Paul Ekman falar sobre a evolução das emoções humanas.

Paul Ekman é o mais conhecido pesquisador sobre comportamento não-verbal, pioneiro no estudo das expressões faciais e das emoções universais. Psicólogo, professor emérito da Universidade da Califórnia, seu trabalho embasa pesquisas acadêmicas, serviços públicos de inteligência (FBI) e obras artísticas, como a série Lie to me e o filme DivertidaMente.

Num ambiente tão fértil de ideias e práticas, surgiu a pergunta: como levar esse conhecimento a um público muito maior? Dalai Lama, então, pediu para que os cientistas e os praticantes ali presentes unissem seus saberes a fim de, finalmente, implementar um programa educacional de gestão das emoções amplo, acessível e secular.

Paul Ekman se uniu a Alan Wallace, uma mente única, que combina uma formação completa no currículo ocidental (física e filosofia da ciência, com Ph.D. em Stanford) com uma extensa formação nas práticas contemplativas budistas, como aluno direto de Sua Santidade o Dalai Lama e de outros grandes professores. Alan Wallace tem mais de 40 anos de experiência ensinando meditação.

Juntos, Paul Ekman e Alan Wallace desenvolveram o primeiro currículo do "Cultivating Emotional Balance" (CEB). Foram muitas colaborações até o programa ser oferecido pela primeira vez, em 2002: Richard Davidson, Mark Greenberg, Matthieu Ricard e outros grandes nomes contribuíram valiosamente para que o currículo fosse finalizado.

Por que para educadores?

Se o programa “Cultivating Emotional Balance” tivesse como objetivo formar apenas um determinado grupo de trabalhadores da população, qual seria?

Com certeza médicos se beneficiariam do cultivo de uma mente mais saudável. Assim como policiais, que precisam de estabilidade emocional para o trabalho, talvez bombeiros ou enfermeiros — e ainda muitos outros! Hoje em dia o CEB está em um incrível florescimento no Brasil e é cada vez mais aplicado em diversas áreas: advogados em resolução de conflitos, cuidadores de pacientes idosos, executivos do mundo corporativo…

No entanto, o foco da formação do CEB foi inicialmente agir para formar um grupo que atinge anualmente muitas pessoas, de maneira contínua: os professores.

Na pesquisa que avaliou a eficácia do programa, publicada no artigo “Contemplative/emotion training reduces negative emotional behavior and promotes prosocial responses”, o grupo escolhido para a aplicação do CEB foi o de professoras, por dois motivos:

“a) sua situação de trabalho é estressante e, portanto, o treinamento de habilidades emocionais pode ser imediatamente útil para suas vidas diárias; e b) por causa do benefício secundário que o treinamento pode ter em seus alunos.”

Foram 82 professoras, do sexo feminino (escolhidas assim porque a maior parcela da população mundial é de mulheres), de 25 a 60 anos, que moravam com um parceiro íntimo. Esse último dado serviu para os pesquisadores avaliarem se os resultados do treinamento poderiam ser observados para além da sala de aula, no relacionamento pessoal de cada uma delas.

Ao final das 8 semanas do programa de 42 horas, as professoras apresentaram ganhos significativos — e, sim, não apenas no ambiente de trabalho. Entre os resultados da pesquisa, sabemos que elas obtiveram:

  • Redução nos níveis de depressão, ansiedade e hostilidade;
  • Aumento no afeto pelos outros;
  • Melhora na habilidade de detectar formas sutis de expressão das emoções;
  • Menor reatividade emocional e fisiológica em testes de estresse.

No Brasil, são poucos os formadores do CEB que atuam diretamente na área da educação. Particularmente, não vejo algo mais valioso para ser cultivado nas escolas. Além da teoria e das metodologias a serem aplicadas em sala de aula, precisamos pensar com urgência no equilíbrio emocional dos alunos e, especialmente, dos professores.

Ao meu redor, vejo escolas cada vez mais preocupadas em formar alunos para serem cidadãos ativos e conscientes, pessoas atentas e compassivas. Vejo algumas iniciativas louváveis de introdução de uma educação das emoções no currículo escolar, assim como o ensino de técnicas de atenção plena em sala de aula. No entanto, nenhuma destas ações pode ser tomada como solução instantânea para os problemas da educação atual.

Antes de atuarmos com os alunos, vejo que é urgente que a gente atue na formação dos professores. Para que estas iniciativas não sejam metas teóricas de currículos escolares, ou mais afazeres na rotina já desgastante dos estudantes, precisamos mudar nosso olhar. Formando professores que tenham ferramentas de gestão emocional, vamos formar, direta e indiretamente, tutores da educação emocional de todo o ambiente escolar. A tarefa de entender nossas próprias emoções e atuar de maneira mais compassiva não pode ser designada para apenas um momento pontual na semana: é diária, incansável, tem muitas nuances, é contínua e vai muito além da escola.

Como professora de educação infantil há dez anos, tenho enorme interesse em oferecer o conteúdo deste programa na educação. Se você chegou até aqui e se interessa pelo tema, entre em contato. Vamos conversar?